A dor de uma oração não respondida

Por Lya Alves
(palavra pregada em setembro/2011 na Comunidade Frutos da Palavra, Contagem - MG



2 Coríntios 12:9 “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo”.

Paulo foi questionado em seu ministério. Na carta aos coríntios, ele se impõe. Estava sendo considerado “tímido”, “fraco” ou “humilde” demais. Suas cartas eram tão ousadas, mas sua presença era sem carisma. E assim as pessoas o estavam desrespeitando, desconsiderando sua autoridade como mensageiro do Evangelho. Então, se voltavam para os “supercrentes”, ou aqueles para quem o púlpito era um palco e que sabiam agradar uma platéia ávida de um espetáculo.
Paulo pregava com humildade, pregava o reino, a cruz, a obra de Cristo. Oque os outros pregavam? Que tipo de pregação os atraía mais do que esta, paulina? Que evangelho estava sendo pregado ali?  Certamente, pregavam a si mesmos, se colocavam no centro da pregação com palavras como: “Eu determino, eu faço, eu aconteço, eu libero bênçãos”. Mas Paulo não queria ser o centro das atenções:

“Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos”.
1 Coríntios 4:12-13

Paulo seguia o mestre e não precisava de palco, assim como Jesus não precisava de um púlpito. Jesus pregava à beira-mar, na brisa do mar da Galiléia ou no monte, onde podia ser questionado. Era acessível, sensível, simples e franco. Tão diferente dos coríntios, arrogantes, orgulhosos, autoconfiantes demais. Tão parecidos com a igreja de nossos dias, cheias de supercrentes superpoderosos, obreiros consagradíssimos, e vice-querubins. A postura do apóstolo, hoje também seria escândalo: “como assim, ser injuriado e bendizer? Ser perseguido e sofrer? Ser blasfemado? Lixo desse mundo nada!” - diriam. Afinal, um supercrente tem uma superfé, e é superficial... Precisa da confissão positiva: eu sou vencedor. Paulo dizia que somos mais do que vencedores, mas a vitória pregada por ele não era a vitória superficial dos supercrentes. Era a vitória de quem tem fé acima das frustrações e decepções.

Então o versículo 9 fala sobre a graça. Deus diz: ”a minha graça te basta”, mas, afinal, oque é isso? Como é essa manifestação da graça em minha vida? Bem, é natural que as pessoas não entendam bem a graça de Deus porque não é ensinada mundo afora. Não é ensinada porque alguns pastores sabem que graça é liberdade. Um cristão que entende a Graça maravilhosa sobre sua vida é livre e não será manipulado por nenhuma mentira clerical. Mas a Graça não é ensinada também porque as pessoas não querem ouvir sobre ela. Uns por medo da liberdade que ela proporciona, e a responsabilidade que vem através dela. Afinal, se eu sei que o pastor não é mediador entre eu e Deus, eu tenho que falar com o Altíssimo, e isso é trabalhoso. É muito melhor esperar que seu pastor ore por você, que ele tenha uma vida santa por você enquanto você é apenas a ovelha tola que precisa ser guiada, enquanto você for obediente, está tudo bem. Assim, você pode projetar suas responsabilidades sobre o pastor.
Alguns não querem aprender sobre a Graça porque estão tão preocupados com os cuidados desse mundo, que só absorvem pregações sobre suas necessidades aqui e agora. E há quem se especialize em ministrações sobre desgraças do mundo. E assim a igreja vem sendo ensinada a colocar a sua fé em coisas materiais, quando a Bíblia diz:

“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens’.
1 Coríntios 15:19

Precisamos nos libertar do espírito de miséria que invadiu a igreja, esse espírito de pedinte, de mendicância espiritual. Estamos sendo ensinados a agir como mendigos, quando somos reis e rainhas. Afinal, estamos assentados ou não á mesa do Pai? Se você está assentado á mesa do Rei, oque te falta? Ok, ok, você olha para sua vida e pensa: “eu não me sinto rei ou rainha, não me sinto na realeza com contas a pagar, enfermidades, desemprego, aluguel”, e blá-bla-blá. . Isto acontece porque estamos olhando para o lado errado, temos que olhar para Cristo, autor e consumador da nossa fé, então vamos nos sentir reis e rainhas. Mas ficamos enfeitiçados pelas concupiscências da carne, pela cobiça dos olhos e pelos cuidados da vida. Queremos tudo que nos é oferecido. Vejamos o livro de Gênesis: Eva não tinha necessidade de nada. Então a serpente vem com o seu bandejão maldito e pronto: Eva estava desesperadamente necessitada embora não estivesse faminta. Hoje não é diferente: o diabo oferece o bandejão podre e em um piscar de olhos perdemos o foco, parando de olhar para Cristo, e olhando para as necessidades ou possibilidades. Tudo que você precisa está no Senhor.
Mas, brasileiros aculturados que somos, crescemos vendo desenhos de Walt Disney, filmes de Hollywood e novelas com final feliz. Então pensamos que sofrimento não é de Deus. Graça é tudo que é bom, suave e agradável. Sofrimento é des-graça. Certo? Errado:

“Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis”.
1 Pedro 3:14

“Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele”.
Filipenses 1:29

Estamos sendo ensinados a crer que crente não sofre, e assim como os coríntios, estranhamos a humildade e a paciência, atributos tão diferentes do padrão do “crente vitorioso”. E viver esse erro significa um caminho cheio de Rivotril, Prozac, Lexotan, porque é impossível andar neste caminho sem o peso da realidade a nossa volta. Mas Paulo agradece a deus por suas fraquezas, e você deveria agradecer também. Agradeça e sinta-se livre do peso de ser perfeito, do fardo da perfeição. Somos primeiramente uma assembléia de pecadores, lavados e remidos no sangue de Cristo. Estamos, portanto, livres do fardo de santarrões. Somos imperfeitos, estamos, portanto, livres para não carregarmos o peso de sermos referencial. Como assim? Eu não tenho que ser referencial? Você tem apenas que ser um cristão, ser referencial é obra do espírito Santo na sua vida. É conseqüência da graça, não a sua meta. Quantos pastores caíram porque não suportaram o fardo de serem referencial. Quantos obreiros abandonaram a igreja porque não suportaram o peso de estar ministrando e precisar usar a máscara do Sr. perfeitinho! Nosso padrão é Cristo! Ninguém mais.

Por que. Paulo relembra aos coríntios que Deus disse, “minha Graça te basta”? Porque ele via os coríntios indo “ladeira abaixo” na fé. Com aquele anseio por vitória e poder, oque seria deles, quando encarassem a realidade da derrota? A frustração? As dores, as tribulações? Veja, Jacó morreu de uma enfermidade; Eliseu também; Jeremias foi pro poço; João, pra Ilha de Patmos. Somos vulneráveis. Não devemos temer as frustrações: ‘A minha Graça te basta', diz o Senhor. Não compre este evangelho de supercrente que não fica enfermo, não sofre, não chora, não se frustra. Assim é conosco hoje: rejeite o evangelho da prosperidade ou você se tornará miserável. Não é o Evangelho que Cristo viveu. É anátema. É o evangelho do anjo de Betesda.

A Bíblia diz que Jesus caminhava e se encontrou com um paralítico no Tanque de Betesda. .Jesus começou a conversar e o paralítico mencionou um anjo que descia e curava pessoas. Curioso, o anjo não desceu enquanto Jesus estava lá. Será que era anjo mesmo? Na verdade, os achados arqueológicos dizem que essa piscina faz parte de um complexo ligado ao santuário de Serápis (Asclépio) que era o deus associado à cura. Mas e se a arqueologia estiver errada? Bom, a Palavra diz: pelos frutos os conhecereis. Mas os frutos do anjo eram: disputa, egoísmo, religiosidade, nada semelhantes aos frutos do espírito. Jesus curou o paralítico, apenas um na multidão. Isto porque Ele não queria apenas curar, queria mostrar a operação do erro para aquelas pessoas. .O homem num momento estava em busca da cura, na piscina de Betesda, santuário de Sérapis, e no outro, estava no Templo, curado. Porque Jesus queria não apenas cura, mas salvar e libertar aquele homem. Imagine o testemunho dele diante dos enganados na fé.

Jesus curou o paralítico no tanque: Ele cura!

Jesus encontrou o homem, agora curado, no templo: Ele salva!

Jesus desmascarou o anjo da cura: Ele Liberta!

Isto é Graça. É dom de Deus! Para que nenhum homem se glorie!

Ás vezes ficou desconcertado diante de um “não” de Deus. Quando uma oração não é atendida, uma enfermidade não é curada ou a tragédia bate á nossa porta e Deus simplesmente diz: “minha graça te basta”. Ou quando a realidade é dura de encarar e você pensa: “não dá pra mim, é maior do que eu”. A morte é maior do que nós, mas Ele venceu a morte. Não tenha medo da frustração, das perdas, das tragédias, dos males deste mundo. Você ainda pode olhar nos olhos Dele e dizer: “Senhor, isto é amargo” e continuar a desfrutar da presença do Rei do Reis. Ele não vai te lançar fora porque você está decepcionado, ele quer diálogo, relacionamento franco e aberto. Não se apavore diante das frustrações. Jesus no Getsemani teve uma oração frustrada, mas esta frustração o levou á cruz e a morte, e por isso, hoje estamos salvos. Entenda a graça de Deus sobre sua vida. Entenda o privilégio de padecer pela justiça de Deus, a “graça de padecer”. Provavelmente Deus estará usando você para gerar vida a alguém, porque Jesus ainda cura, salva e liberta!

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